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História dos Palestinos

Por Eduardo Feldberg - Fevereiro/2008 (Revisado em Maio/2013)

 

Alguns anos atrás, escrevi um artigo chamado História de Israel (disponível para leitura aqui), com informações extraídas diretamente da Bíblia, que, por sinal, é a maior fonte de informações sobre este povo. Naquele artigo, escrevo um panorama sobre toda a história daquele povo, desde os primórdios tempos de Abrão até a criação do Estado de Israel, ocorrida em 1948. Apesar de não ser muito extenso e aprofundado, foi um dos textos mais demorados que já escrevi, pois há muita informação. Hoje, quatro anos depois, me senti compelido a escrever um pouco a respeito de outro povo, também estreitamente relacionado com os israelitas: Os palestinos!

 

Hoje em dia, vemos tantas informações jornalísticas sobre a situação em que se encontram essas duas nações, seus conflitos, seus avanços territoriais, mas muitas vezes não sabemos o motivo de tanta confusão, e isso me gerou uma curiosidade, que por sua vez me levou a pesquisar um pouco mais sobre esses povos. Neste artigo, escreverei sobre a origem dos Palestinos, sua formação, o relacionamento com os judeus, a divisão, seus conflitos e um pouco da atual situação.

 

Neste estudo, que durou mais ou menos quarenta dias, procurei informações sobre a Palestina na Bíblia, em livros históricos, escolares e artigos em geral. A grande dificuldade em escrever um texto sobre judeus ou palestinos é a grande contradição entre as fontes. Como é de se esperar, muitas fontes não expressam informações neutras ou imparciais, e acabam relatando os fatos com certa tendenciosidade. Com isso, tive que analisar um pouco do ponto de vista de cada autor e tentar coletar as informações mais confiáveis, embora não tenha certeza se obtive êxito nesta tentativa, afinal, não sou nenhum historiador, mas apenas um curioso estudante. Tentei evitar ao máximo qualquer preconceito ou inclinação. Nos últimos dias, li alguns textos e trechos de livros de autores libaneses, por exemplo, e notei a influência palestina nas informações. Em outros casos, reparei uma influência antissemita, mas tentei captar informações preconceituadas, e me guiar apenas pela verdade, ou “possível verdade” dos fatos, afinal, tanto judeus quanto palestinos (quanto eu) têm falhas.

 

A Bíblia nos fala sobre o Plano de Salvação para a humanidade e desde o início, este plano está bastante relacionado com o povo de Israel. A Bíblia nos dá uma rica gama de detalhes sobre eles e sobre os povos que se cruzaram com eles, como os filisteus, cananeus, egípcios, romanos, gregos, macedônios, etc. Destes muitos, um dos povos que se cruzaram foi o que futuramente originaria o povo palestino. Vamos ver como isso aconteceu.

 

 

 

QUANDO SURGIRAM?

 

 

Há milhares de anos, por volta de 4000 a.C., muitos povos habitavam a região onde hoje se concentram os judeus, palestinos, libaneses, sírios, árabes, entre outros. Esta região, conhecida como Oriente Médio, não é muito grande, mas está localizada num ponto geográfico extremamente importante. Importante, pois fica na junção dos três grandes continentes Ásia, Europa e África. Política e geograficamente, a região é ótima, porém, ali há muitos lugares desérticos e áridos, onde não se consegue plantar, e visando uma área mais frutífera e produtiva, os habitantes daquela região foram se direcionando para o litoral, banhado pelo Mar Mediterrâneo, onde há mais recursos para o plantio. Além do Mediterrâneo, há ali um pequeno e disputado espaço de terra onde corre um rio muito bom, que torna férteis suas margens: O Rio Jordão. Essa região passou a se chamar Canaã, e no mapa abaixo podemos ter uma noção melhor da região:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Repare que, no aspecto vegetativo, os habitantes só poderiam se direcionar a duas regiões, na tentativa de fuga das areias escaldantes: Região do Delta do Nilo (que já estava superlotada), ou Canaã, que conta com o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Foi por esta segunda opção que muita gente optou!

 

Os muitos povos que habitavam a região (hebreus, filisteus, cananeus, heteus, gebuzeus e aquele monte de “eus”) foram se unindo, para conviver de forma melhor e mais segura, resultando em duas grandes comunidades principais: Hebreus e Filisteus. Como o número de filisteus eram maior que o número de hebreus, aquela região passou a ser chamada de Palestina, em vez de Canaã. O nome “Palestina” foi dado pelos gregos, em homenagem aos filisteus. Grosso modo, para os gregos, a região foi nomeada como philistia, que foi sendo transliterada por outros povos, até se tornar palestina. Esses dois grupos começaram a se desentender demais, principalmente por questões de ampliação territorial, e iniciaram seguidos conflitos. Essas batalhas duraram muitos séculos. Podemos ver algumas na biografia de Sansão, por exemplo, que foi um dos representantes hebreus mais ferrenhos na luta contra os filisteus.  Foi por volta de 990 a.C. que os hebreus alcançaram a hegemonia na região, vencendo os filisteus por completo numa série de conquistas com os reis Davi e Salomão.

 

Após a divisão do Reino de Salomão, os hebreus começaram (ou melhor, continuaram) a travar diversas batalhas, algumas das quais venciam, outras perdiam. Em meio a tantas lutas e conflitos, não se pode dizer que os hebreus perderam suas características culturais, mas pode-se dizer que alguns deles se misturaram com outros povos, criando certa miscelânea de costumes e crenças. Alguns hebreus se misturaram com algumas civilizações aqui, alguns filisteus sobreviventes das guerras ali, outros povos sobreviventes de outras guerras acolá, e foram sendo influenciados por estes outros povos. Você se lembra daqueles textos bíblicos em que Deus ordenava a expulsão dos habitantes dos territórios conquistados, para evitar que eles se misturassem e se contaminassem com a idolatria e maus costumes dos povos? Caso sim, deve lembrar também que, na maioria das vezes, o povo não obedecia, certo? São exatamente estes os exemplos de pessoas e povos que foram se chegando e influenciando os hebreus, e agora viviam juntos. Resumindo, o povo hebreu dominou os filisteus, se misturou com alguns deles, e dominou toda a região palestina.

 

O tempo foi se passando e nos últimos cinco séculos antes de Cristo, muitos povos dominaram os hebreus, como os assírios, babilônios, persas, gregos, e por fim, os romanos, até que no ano 70 d.C., os judeus se insurgiram contra seus opressores de Roma e perderam de vez seu último conflito daquela época, sendo perseguidos e mortos. Cerca de 100 mil judeus fugiram e se dispersaram pelo Império Romano no primeiro século da Era Cristã (a chamada “Diáspora”), e dali em diante, espalharam-se pelo globo, restando na região palestina apenas algumas poucas comunidades, que viriam a originar os atuais palestinos. Essas comunidades se renderam e submeteram ao Império Romano, foram se misturando com os demais povos da região, e foram levando sua vida normalmente. Desta forma, os palestinos são os povos que continuaram vivendo na região palestina após a expulsão dos judeus daquela região.

 

 

 

RELIGIÃO DOS PALESTINOS

 

 

Como o avanço do cristianismo foi muito intenso nos primeiros séculos depois de Cristo, os povos que habitavam aquela região eram majoritariamente cristãos. Nos primeiros séculos, tanto os palestinos quanto demais habitantes dali eram cristãos. Hoje, vemos que os palestinos não guardam mais essa característica, e são mais definidos e caracterizados pelos traços físicos e culturais árabes e muçulmanos, do que como judeus e cristãos. Acontece que, por volta do ano 700, iniciou-se uma grande reviravolta na região, devido às expansões dos países muçulmanos vizinhos, que decidiram conquistar toda a região palestina. Diversas nações islâmicas dominaram o terreno dos palestinos e mesclaram-se com eles, criando uma nova geração com características mais islâmicas. Árabes, egípcios e outros povos passaram a controlar a região até o século XV, quando surgiu o Império Otomano. Este império predominantemente turco se formou no século XIII, e chegou a ser imenso, abrangendo os países atuais conhecidos como Egito, Síria, Argélia, Bulgária, Arábia, Turquia, entre outros. Este grande império oriental perdurou até o séc. XX, quando foi dissolvido após a Primeira Guerra Mundial. Desta forma, a princípio os palestinos eram em grande parte cristãos, mas como povo laico, não vetavam outras religiões, nem perseguiam pessoas com outras crenças. Com as constantes invasões dos países muçulmanos, foram sendo forçados a mudar de religião, sendo doutrinados segundo os costumes islamitas, ou muçulmanos.

 

Durante os primeiros séculos depois de Cristo, povos judaicos, por exemplo, habitaram juntamente com os palestinos. A Palestina era até então apenas uma província do Império, cuja população vivia quase que totalmente da agricultura. Por volta do Séc. XIII, a grande maioria dos palestinos já era muçulmana, induzida pelos turcos que os dominavam, mas ainda havia alguns poucos habitantes judeus na região. Segundo estatísticas, os palestinos em geral eram em cerca de 500 mil habitantes. Deste total, apenas 10 mil eram de religião judaica.

 

 

 

HISTÓRIA DOS PALESTINOS

 

 

Notamos que desde cedo, o povo palestino foi subjugado, perdendo a posse de suas terras para povos mais fortes, e vemos também que os conflitos não se tratam, nem a princípio, nem nos dias atuais, de questões exclusivamente religiosas, mas também, e principalmente, de questões territoriais. Os séculos se passaram e a Palestina continuava sob o domínio do Império Otomano, até que por volta de 1800, diversos países europeus abriram os olhos e passaram a ver que a região palestina era uma região muito interessante, por se situar num ponto estratégico, com um grande litoral, uma riqueza petrolífera imensa, agricultura produtiva, e com isso, os europeus (em especial os franceses e ingleses) uniram suas forças com os árabes e passaram a ser uma pedra no sapato do Império Otomano, cobiçando a promissora região.

 

Para entendermos um pouco da história palestina, é muito favorecedor conhecermos um pouco da história dos judeus também, então vou dar um breve panorama. Como é do conhecimento de muitos, os judeus foram perseguidos por diversos impérios e nações nos meandros destes quase dois milênios de perseguição e fuga. Além do nazismo alemão, os judeus também foram perseguidos em outros países, como na Rússia, com o regime czarista. Ali, por meio de diversas caçadas, os russos praticavam a política do antissemitismo, oficialmente sancionada pelo governo. Os extermínios foram tão violentos que aceleraram e propagaram o crescimento do Movimento Sionista, que levou cerca de 1,5 milhão de judeus a deixar os territórios russos. Com essa nova “diáspora”, diversos judeus resolveram voltar para o seu território natal, que agora era habitado pelos palestinos!

 

O Movimento Sionista foi fundado formalmente em 1897, pelo judeu austríaco Theodor Herzl, e seu principal objetivo era restabelecer um estado israelita em seu local original, isto é, Jerusalém, de onde os judeus haviam sido expulsos injustamente há praticamente dois mil anos. Com o sucesso deste movimento, a população judaica emigrou para a região palestina e começou a se tornar muito volumosa (à la Êxodo 1). Eles se instalaram na região e iniciaram diversas colônias por ali. Herzl se entregou de corpo e alma a esta causa, buscou patrocinadores para o movimento e conseguiu muitos! Diversos influentes “magnatas” europeus e asiáticos ajudaram os sionistas financeiramente, garantindo a eles a compra de diversos terrenos na região palestina. Com o tempo, os judeus cresceram em número e potencial, passaram a serem vistos como ameaças pelos palestinos, e a relativa harmonia que havia entre eles passou para hostilidade.

 

Entre os anos de 1914 e 1918, na 1ª Guerra Mundial, a Turquia se aliou à Alemanha na disputa pelo mundo e acabou perdendo a guerra, de forma que o Império Turco Otomano veio à bancarrota. Franceses e Ingleses dividiram as terras otomanas entre eles, e as terras palestinas ficaram para os ingleses, que passaram a controlar a região. Isso foi muito benéfico para os judeus, pois os ingleses decidiram dividir a Palestina entre judeus e árabes. Isso foi extremamente mortificante para os palestinos, que já estavam odiando os inúmeros imigrantes judeus em seu território. Agora, então, iria chover judeus ali. Até 1922, havia cerca de 50 mil judeus na Palestina, e os palestinos (em sua maioria, árabes) começaram um movimento de represssão aos judeus. A princípio, tratava-se de protestos mais “pacíficos”, mas intensos e constantes, de forma que a Inglaterra começou a limitar a entrada de judeus ali para evitar maiores problemas. Mas... Como a história nos mostra, os judeus são insistentes, persistentes e possuem uma larga veia belicosa. Decidiram revidar os protestos, mas de forma não tão pacífica, e com seu radicalismo, acabaram expulsando os árabes de suas terras, dando início à guerra que perdura até os dias de hoje! Note novamente que o quesito religião não está em debate, mas sim a questão territorial.

 

 

 

A DIVISÃO DA PALESTINA

 

 

Na década de 30, os judeus já representavam uma fatia de 20% da população total na região, e é neste momento que explode o nazismo na Europa, fazendo chover judeus na Palestina. Mais 200 mil judeus emigraram para lá, gerando muitos e muitos conflitos. Em 1937, a Grã-Bretanha cogitou dividir a Palestina em dois estados (não apenas geograficamente, mas agora, dividir em dois Estados politicamente independentes), afinal, os judeus, embora representassem um terço da população regional, distribuíam-se em apenas 12% das terras palestinas. Vendo que seus sonhos estavam prestes a ser logrados, os judeus aceleraram o processo de expansão territorial, mas a animação tornou-se irracional, valendo-se de eventos terroristas para alcançar seus propósitos de conquista de terras. Movimentos armados judeus como o Haganah e o Irgum valeram-se da violência, atacando, expulsando e matando palestinos. Centenas de povoados árabes foram destruídos por judeus, e a situação começou a perder o controle, que era dos ingleses.

 

Em 1947, a Grã-Bretanha anunciou que renunciaria a posse da região e a passaria para a ONU, que assumiu o caso e aprovou o plano de divisão formal da Palestina entre árabes e judeus. Esse acordo dividia as terras palestinas num estado judaico de 14.000 km², e num palestino de 11.500 km², além de prever a internacionalização da cidade de Jerusalém, sagrada e supervalorizada para cristãos, judeus e muçulmanos. Assim que a divisão foi cogitada, as lutas se intensificaram, pois os palestinos não aceitaram o “acordo”. Quando os ingleses se retiraram, Bem Gurion (líder da Agência Judaica) proclamou a fundação do Estado de Israel, e criou a “Lei do Retorno”, abrindo as portas do novo Estado a qualquer judeu espalhado pelo mundo.

 

 

 

INICIAM-SE AS GUERRAS

 

 

No dia seguinte, ocorreu a “Guerra da Independência”, onde os israelitas enfrentaram os gigantes vizinhos Egito, Líbano, Iraque e Síria, que embora grandes em número, não eram muito bons lutadores, e perderam o conflito. Nesta guerra, os judeus dominaram milhares de quilômetros quadrados além dos que estavam previstos na partilha proposta pela ONU. No final das contas, os judeus ficaram com quase 80% das terras palestinas em sua possessão, e deu-se início ao drama dos palestinos, que foram expulsos de suas terras e tiveram que se refugiar em terras vizinhas. É complicado assumir um lado nesta história, afinal, os palestinos sofreram com a desapropriação de suas terras pelos judeus, mas a princípio, a terra realmente era dos judeus, que foram desapropriados delas injustamente há dois mil anos. Ambos os lados foram injustiçados, e fica um pouco difícil dizer quem tem mais razão. Mais de um milhão de palestinos tiveram que procurar abrigo e refúgio nos países vizinhos, mas não foram bem aceitos e acabaram sendo meio que marginalizados. O único país que concedeu cidadania aos palestinos foi a Jordânia. A ONU ordenou que os judeus pagassem indenizações a esses palestinos, mas as tentativas foram inúteis. Desolados, os palestinos receberam em 1950 um órgão da ONU que visava auxilia-los, dando alimentação, assistência médica e educação elementar aos novos deserdados, que assim como os judeus, também zelam muito por manter sua cultura.

 

Alguns milhares de palestinos ainda viviam nos 20% de terras restantes da palestina, além dos árabes que ainda ficaram nas terras judaicas, submetendo-se a seus novos chefes com difíceis trabalhos braçais. Numa situação complicada e desorganizada, os palestinos exilados decidiram se unir e criar um grupo de resistência, a famosa OLP – Organização para a Libertação da Palestina, em 1964, para lutar pela reconquista da Palestina. No começo, a resistência se deu por meio de panfletos e revistas para divulgação de seus ideais, mas com o tempo, a OLP se subdividiu em alguns grupos, dentre os quais se destacou o Al Fatah (“A Vitória”), liderada por ninguém menos que o famoso Yasser Arafat, muçulmano palestino que, de combatente clandestino, galgou a posição de chefe máximo do Estado Palestino. O Al Fatah estigmatizou o Estado de Israel como inimigo, mas não necessariamente os judeus, pois cria que ambos – palestinos e judeus – podiam viver harmoniosamente, desde que cada um com seus direitos garantidos, mas como os judeus se mostravam bem supridos de artigos bélicos, os palestinos criaram em 1964 o Exército de Libertação da Palestina, prevenindo-se de qualquer conflito armado que pudesse ser deflagrado. Este exército atacou alguns alvos militares israelenses no ano seguinte, e acabou acendendo o estopim que faltava para iniciar a guerra. Ataques e contra-ataques explodiram (literalmente) na outrora chamada Canaã, e os palestinos árabes passaram a ser ainda mais evitados, pois países como o Egito, Jordânia e Líbano não eram a favor da luta armada, por receio de quaisquer danos secundários a seus territórios.

 

O único país que abriu as portas para os palestinos foi a Síria, que se tornou o alvo dos israelitas. Com estes ataques, os vizinhos egípcios, jordanianos e libaneses se compadeceram dos sírios e uniram-se a eles para destruir os atacantes judeus, dando origem à Guerra dos Seis Dias. Todos esses países se uniram para dominar os pequenos, mas barulhentos judeus, mas... Que péssima ideia! Esses gigantes disseram para os palestinos que ainda habitavam na Palestina:

 

- Saiam daí que nós enfrentaremos o Estado de Israel, os dominaremos, expulsaremos e, em seguida, vocês poderão regressar à sua terra natal.

 

Os palestinos saíram, mas qual não foi a desgostosa surpresa quando perceberam que os judeus haviam vencido a guerra! Um ataque-surpresa judeu desbaratou todas as tropas dos países limítrofes que, despreparados, se deram por vencidos após curtos, porém longos seis dias. Israel estendeu suas fronteiras e expandiu sobremodo seus territórios. Agora a Palestina era quase totalmente judaica, e os Palestinos foram ainda mais depreciados e desprezados pelos países que lhes fizeram tão boas promessas. De certa forma, esses países passaram a vê-los como culpados pela diminuição de seus territórios, e acabaram os expulsando de suas terras. Alguns palestinos foram se agrupar no Líbano, onde encontraram boas oportunidades para se reunir, mas, a guisa dos israelitas no Egito, começaram a se multiplicar rápido demais, incomodando os libaneses.

 

Em resposta aos muitos ataques aos palestinos, em 1968 surgiram outros grupos de resistência, dentre eles, cito a FPLP – Frente Popular de Libertação da Palestina, que se valia inclusive de ataques suicidas em prol de seus ideais. Em 1969, o ousado e corajoso Arafat assumiu a presidência geral da OLP, e encarou diversas vezes os maiorais judeus, vencendo-os muitas vezes, mesmo sob orientações de que deveria recuar. Um triste fato, muito lembrado mundialmente, relacionado a esses conflitos, foi o ataque de Munique, quando um grupo palestino atacou onze atletas da delegação israelense que participavam das Olimpíadas de 1972. Esse e diversos outros ataques a civis visavam atrair a atenção do mundo à causa palestina. Algumas frentes terroristas palestinas foram tão sanguinárias que acabaram perdendo prestígio e apoio dos próprios palestinos, que passaram a considerar unicamente a OLP como representante do povo. O plano elementar da OLP ainda era construir um Estado democrático que reunisse judeus, palestinos, cristãos e muçulmanos no mesmo território, mas isso era mais difícil do que se podia imaginar.

 

Alguns anos depois, aconteceu outro famoso conflito, conhecido como “Guerra do Yom Kippur”. Nele, os árabes atacaram os judeus justamente no Dia do Perdão (Yom Kippur), sagrado para os israelitas. Neste ataque, o Estado de Israel perdeu grande parte das terras que havia conquistado, e a imponente e impressionante imagem que eles tinham foi um pouco denegrida, mas por pouco tempo, afinal, três anos depois, numa heróica estratégia para libertar judeus tomados como reféns num avião sequestrado por palestinos, reconquistaram sua moral. Esta operação foi pincelada no fim do filme “O Último Rei da Escócia”, lançado há alguns anos.

 

Os palestinos concentravam-se principalmente no Líbano, cuja capital é Beirute. Ali, houve o mesmo problema que na Jordânia. Os palestinos queriam criar um Estado dentro do país, mas encontraram resistência, atacando e sendo atacados. Este novo conflito acabou não apenas com a vida de milhares de pessoas, mas também com a imagem do país, que foi devastado. O Líbano, até então conhecido como a “Suíça do Oriente Médio”, agora estava em ruínas. Enquanto os palestinos eram isolados, os judeus conquistavam grandes aliados, fazendo acordos de paz com diversos países, inclusive o Egito.

 

Diversos outros ataques foram impingidos sobre os palestinos e os desestruturaram. Em 1982, 80 mil soldados judeus eliminaram mais de 20 mil palestinos no Líbano, deixando-os sem condições de moradia e sustento. Outros ataques nos campos de Beirute fizeram as bases da resistência palestina estremecerem. Sem território para armar bases, os palestinos se viam unicamente com uma proposta mais diplomática para garantir seus direitos.

 

Estimativas informaram que no início dos anos 90 havia aproximadamente 6 milhões de palestinos espalhados pelo mundo. A Resistência Palestina “formal” deu uma minguada, mas a maioria dos palestinos ainda estava revoltada com a situação e, mesmo sem uma grande organização de ataque, se rebelava contra os israelitas da forma que podiam. Essa situação gerou um levante do povo chamado “Intifada”, ou “Revolta das Pedras”, em que os palestinos (principalmente crianças e adolescentes) armados com paus e pedras passaram a atacar os soldados inimigos a qualquer momento. Esses atos perduram até hoje.

 

 

 

ÚLTIMOS ACONTECIMENTOS

 

 

Em 1988, o Conselho Nacional Palestino proclamou o Estado Palestino, que ganhou o reconhecimento e a aceitação da ONU. Em maio do ano seguinte, Yasser Arafat finalmente reconheceu a existência do Estado de Israel, após décadas da determinação da ONU com relação à criação. Em 1991, houve uma Conferência de Paz onde, pela primeira vez, Israel compareceu frente a frente com representantes palestinos. Pacificamente, decidiram redistribuir as terras. Israel cedeu mais alguns territórios como Jericó e a Faixa de Gaza para domínio dos palestinos, e este acordo rendeu a Yasser Arafat, Shimon Peres e Yitzhak Rabin o Premio Nobel da Paz.

 

Chegamos aos anos 90, e creio que deles em diante, já pudemos acompanhar um pouco da situação destes dois povos, tão próximos, mas tão distantes. Ambos descendentes do Patriarca Abraão, mas que seguiram rumos tão diferentes, e hoje se veem separados por tanto ódio, fruto de injustiças, perseguição e sofrimento não apenas deles, mas de diversas outras nações e impérios mundiais.

 

Em meio a tantas guerras, esperamos ansiosamente pelo dia em que a paz lhes será revelada, mas não ansiamos tanto assim pelo “homem” que prometerá essa paz... Efêmera paz.

 

 

 

 

 

Eduardo Feldberg

www.eduardofeldberg.com.br

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