Período Intertestamental
Por Eduardo Feldberg - Abril/2005 (Revisado em Maio/2013)
Neste breve artigo, escreverei sucintamente sobre os acontecimentos históricos mais marcantes ocorridos entre o final do Antigo Testamento e o início do Novo Testamento, período conhecido como “400 Anos de Silêncio”, por não haver nenhum registro bíblico ou profético neste ínterim. Politicamente, estes quatro séculos podem ser divididos em quatro domínios, e escreverei um pouco sobre os fatos mais importantes ocorridos em cada um deles. Saliento que, para um melhor entendimento de cada um dos períodos abaixo, você leia sempre o texto do período anterior, pois evitarei repetir informações, a fim de não prolongar demais o texto.
Período Persa (430 - 331 a.C.)
Período Grego (331 - 166 a.C.)
Período da Independência (166 - 63 a.C.)
Período Romano (63 a.C. - Jesus Cristo)
Período Persa
No ano 586 a.C., os israelitas foram dominados pelos babilônios (2 Reis 20.17; 24.10; 25.21), que por sua vez foram subjugados pelo recém-formado Império Medo-Persa, sob o comando do chefe militar Dario, que se subordinava ao Rei Ciro, por volta do ano 539 a.C. (Daniel 5.31). Nomes como Artaxerxes, Xerxes e Dario são comuns para nós, como líderes persas que governaram durante esse período. Os persas trataram bem os judeus, e permitiram que eles retornassem às suas terras, prosseguissem com seus costumes culturais e religiosos, reconstruíssem a cidade de Jerusalém, o Templo, os muros, etc. Neemias, por exemplo, reconstruiu Jerusalém durante o governo de Artaxerxes I. (Neemias 2.1) Usualmente, os persas eram clementes, e tanto a autoridade civil como religiosa foram restabelecidas em Israel durante esse período. Os judeus eram governados por sumos sacerdotes que se reportavam ao governo judeu, porém, a despeito desta boa liberdade, ainda faziam parte do Império Persa, que se manteve no domínio por mais de duzentos anos. Sob o governo de Dario III, os persas começaram a perder muitas batalhas contra os gregos, e acabaram sendo dominados por eles no ano 331 a.C.
Período Grego
Com a queda do Império Persa, o poder passou para a emergente potência grega. Sob o comando de Alexandre, o Grande, de 20 anos, o exército macedônio (outro nome dado aos gregos) varreu todas as demais potências da região em um período muito breve. Dominaram, entre outros, os exércitos egípcio, assírio, babilônico e persa. Os gregos conquistaram a região palestina em 331 a.C., dominando definitivamente os persas. Alexandre poupou a cidade de Jerusalém e disseminou a língua e a cultura grega por toda parte (helenismo). Marchas forçadas e muita bebida o levaram a morte, ainda aos 33 anos de idade, em 323 a.C. Com sua morte, morreu também a ideia de um governo mundial e, em cumprimento da profecia de Daniel (Daniel 11.4,5), seu reino foi dividido. O império foi fracionado entre seus quatro generais, e as duas porções orientais foram divididas entre dois deles:
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Selêuco, que governou a porção imperial que compreendia a região da Síria;
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Ptolomeu, que comandou a porção imperial que compreendia a região egípcia.
Por isso, “Ptolomeus” correspondem aos reis gregos da região egípcia, ao passo que “Selêucidas” correspondem aos reis gregos da região síria. Os judeus se dispersaram pelo Império Grego. A princípio, a Palestina ficou sob o controle sírio, mas após cerca de vinte anos, passou para o controle egípcio. Neste período ptolemaico, os judeus prosperaram e tiveram paz. Contavam até com um centro religioso na cidade de Alexandria, muito importante política, social e culturalmente, e isso propiciou meios de se traduzir o Antigo Testamento do hebraico para o grego, em 270 a.C. (fator necessário, devido ao espalhar do helenismo). Esta tradução foi nomeada “Septuaginta”. Tudo estava muito bem, até que em 198 a.C., Antíoco, o Grande (Sírio) reconquistou a Palestina e esta voltou ao controle dos Selêucidas. Entre 175 e 167 a.C., os judeus foram severamente perseguidos por Antíoco Epifânio, que estava decidido a exterminá-los, juntamente com sua religião. Antíoco profanou o templo de Jerusalém, oferecendo um animal impuro sobre o altar, e cometeu diversos outros delitos e crueldades, tentando até mesmo destruir todos os manuscritos das Escrituras, provocando a ira dos judeus. Naquela época havia um homem chamado Matatias Hasmom, um sacerdote patriota com cinco filhos e, dentre estes, Judas, um guerreiro nato que conseguiu juntar forças para libertar os judeus, e se livrar da opressão dos Selêucidas. Isso resultou na independência dos israelitas.
Período da Independência (Período Hasmoneano, ou Macabeu)
Esse período de independência durou cerca de 100 anos (166 a 63 a.C.) e foi conhecido como Período Macabeu ou Hasmoneano, pois Judas Hasmom tinha o apelido de “Macabeu”, que quer dizer martelo. Em 165 a.C., Judas purificou o Templo e o reconsagrou, originando assim a “Festa da Dedicação”, em comemoração à reconsagração do Templo, que havia sido severamente profanado com sacrifícios impuros de Antíoco. Mesmo no período hasmoneano houve revoltas e conflitos, mas desta vez, entre o próprio povo judeu, gerando círculos políticos e religiosos contrários entre si. É nessa época que ocorre o surgimento de diversos grupos descritos no Novo Testamento, como o dos Fariseus e Saduceus, distintos tanto por suas crenças quanto por suas divergências políticas. Estes dois grupos foram os que mais se destacaram, mas tivemos outros, como os essênios, zelotes, herodianos, etc. Segue abaixo uma bem breve descrição de cada grupo:
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Fariseus: Era a principal e mais influente seita judaica. Fariseu quer dizer separado, porque eles realmente se separavam, não apenas dos outros povos, mas também dos outros israelitas não pertencentes ao grupo. Desta forma, além de ser um grupo religioso e político, eram também vistos como uma ordem social. A princípio, os fariseus eram um grupo bem intencionado de judeus que não queriam que se perdesse a observância da Lei de Moisés, porém, com o tempo, foi invadido por diversos rituais legalistas que os fizeram perder seu propósito original. A separação deles para com os demais israelitas se dava principalmente devido às interpretações distintas das Escrituras, como com relação aos alimentos e atos rituais. Observavam práticas minuciosas, mas muitas vezes esqueciam-se do verdadeiro espírito da Lei, tornando-se religiosos ao extremo. Após a entrega da Lei a Moisés, os judeus acabaram criando novos ensinos, conhecidos como Tradição Oral, que acabou recebendo o mesmo peso da Lei. Criam que a observação da Lei e das tradições era suficiente para a justificação com Deus. Ao contrário de seus adversários saduceus, criam na imortalidade da alma, ressurreição, anjos e espíritos. Apesar de serem hoje vistos como hipócritas, viviam de forma moderada, sem muito luxo, embora alguns gostassem de se aparecer. Havia entre eles muitos homens piedosos e influentes, como Simão (Lucas 7.36), Nicodemos (João 3.1), Gamaliel (Atos 5.34) e Saulo de Tarso (Atos 23.6). O grupo dos fariseus foi o único que perdurou após a destruição do templo, em 70 d.C., influenciando assim todo o judaísmo posterior.
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Saduceus: Pequena seita composta por sacerdotes ricos e influentes, que ganhou o domínio sobre o sacerdócio antes da época de Cristo, por serem “descendentes” de algum sumo sacerdote. Apesar de controlarem o sacerdócio, não se importavam muito com a religião, sendo vistos como mundanos, cheios de práticas meramente exteriores. Adversários dos fariseus, rejeitavam as tradições judaicas que aqueles veneravam, e viviam sempre em busca do prazer que suas riquezas lhes proporcionavam. Como Jesus quis purificar o Templo, e foi chamado de Filho de Davi, acabou não sendo bem quisto pelos saduceus, que tentaram eliminá-lO. Um detalhe interessante é que, ao contrário dos fariseus, os saduceus não criam na ressurreição, nos anjos, nem na existência de espíritos. Aparecem em alguns trechos do Novo Testamento, como Mateus 16.6-12, 22.23, Atos 4.1 e 23.6, 8, e ao que parece, se extinguiram logo após a destruição do templo, em 70 d.C.
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Essênios: Os essênios não são mencionados nas Escrituras, porém, historicamente, sabe-se que representavam a terceira grande seita da época de Cristo (juntamente com os fariseus e saduceus), e que tinham doutrinas muito parecidas com as dos cristãos. Supõe-se que, por motivos desconhecidos, eles se afastaram do judaísmo tradicional (talvez devido aos sinais de corrupção e desvirtuamento), e com esse afastamento, passaram a serem perseguidos pelos demais grupos, e foram se refugiar em regiões desérticas, vivendo em comunidades menores e cumprindo fielmente a Lei mosaica e os profetas do Antigo Testamento. Os famosos “Manuscritos do Mar Morto” descobertos numa caverna na década de 1950 provavelmente foram escritos por membros de uma comunidade essênia que se escondia ali. Os essênios foram perseguidos e também se dispersaram no período da destruição de Jerusalém.
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Zelotes: Após os três principais grupos judeus (fariseus, saduceus e essênios), vinha o grupo dos zelotes, formado por patriotas anti-romanos. Queriam o retorno à observação das leis de Moisés, e lutavam pela independência nacional, usando para isso a força contra os romanos. Apesar de possuírem traços religiosos, eram mais vistos como um grupo de insurreição política. Recusavam-se a pagar impostos à Roma e constantemente atacavam os exércitos romanos. Foram eles os responsáveis pela revolta judaica que resultou na destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Um dos doze discípulos pertencia a esse grupo, o chamado “Simão Zelote”. (Lucas 6.15)
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Herodianos: Os herodianos eram na verdade um partido político composto por judeus de nascimento, que apoiavam a dinastia dos Herodes (abaixo, escreverei sobre isso). O desejo dos herodianos era ter um império judaico independente. Aparentemente, eles apoiavam Herodes, aproveitando-se assim da segurança e defesa que o Império Romano lhes proporcionava contra outros povos, mas logo que pudessem, juntariam toda a força necessária para se rebelarem contra o Império, em busca da independência definitiva, sonho que jamais foi alcançado. Podemos vê-los em passagens como Mateus 22.16, Marcos 3.6, 8.15 e 12.13.
Continuando, os judeus tiveram diversos governantes hasmoneanos, como Alexandre Janeu, que, ao morrer, deixou o controle nas mãos de sua viúva, Alexandra, que conseguiu encerrar as guerras civis que dizimavam a população. Mais tarde, impossibilitada de comandar o povo, passou o comando para seus filhos Aristóbulo e Hircano, que lutavam entre si pelo poder. Hircano, com a ajuda de Antípatre (posteriormente governador da Judéia) obteve o êxito nesta disputa e passou a governar a Palestina. Aos poucos, Hircano passou a se vincular com os romanos (por intermédio de Antípatre), que cresciam cada vez mais, e essa vínculo acabou resultando na conquista da Palestina pelos romanos. Antípatre, o “amigo” de Hircano, na verdade o usou como isca para levá-lo às garras do governo romano e adquirir prestígio aos olhos dos líderes do imenso império que se levantara. Em 63 a.C., os romanos dominaram a região e encerraram o Período da Independência. Um fator muito importante que favoreceu a derrota dos israelitas foi a falta de união os próprios judeus, levando-os ao enfraquecimento, desestruturação e declínio.
Período Romano
Como o Império Romano tinha proporções gigantescas, seu imperador dividia o território em províncias, nomeando líderes locais para governar cada uma delas. Foi por isso que Antípatre traiu seu amigo Hircano, passando a assumir este posto de líder provinciano. Antípatre tornou-se governador da Judéia, e com ele, iniciou-se o governo “Herodiano” (pois seu filho se chamava Herodes). Em outras palavras, os romanos conquistaram a Palestina, mas deixaram esse território sobre responsabilidade de Antípatre e seus descendentes. Assim, os “Herodes” governavam, porém, totalmente submetidos à autoridade de Roma. O primeiro filho de Antípatre sucedeu seu pai no governo e ficou conhecido como “Herodes, o Grande”. Foi durante seu reinado que nasceu Jesus. Com o passar do tempo, o povo hasmoneano (judeus inconformados com a retomada do poder de seus inimigos) elegeu Antígono como líder, a fim de confrontar Herodes e o povo romano, porém, essa batalha se intensificou e os romanos intervieram nesta situação com todo o seu poderio bélico, para consolidar seus interesses na Palestina. Com isso, Herodes foi nomeado “Rei dos Judeus” e Antígono foi executado. Sob o comando de Herodes, a região palestina cresceu e prosperou com inúmeros avanços, construções, mas ao mesmo tempo em que este líder fazia grandes avanços e trazia prosperidade à região, foi um governante muito mal e frio, cometendo diversas atrocidades, violência e homicídios. Com a morte de Herodes, o Grande, em 4 a.C., seu reino foi dividido e passou a ser administrado por três de seus muitos filhos:
- Arquelau (“Herodes, o Etnarca”) apossou-se da Judéia, Samaria e Iduméia.
- Antipas (“Herodes, o Tetrarca”) ficou com a Galiléia e a Peréia.
- Filipe II ficou com os territórios ao norte e a leste da Galiléia.
O império foi dividido em quatro partes, porém, na prática, houve apenas três líderes, pois o Imperador Augusto concedeu duas partes (metade) do domínio de Herodes para o primogênito Arquelau, e a outra metade foi dividida entre Antipas e Filipe. Por isso, Antipas era conhecido como tetrarca (pois dominou sobre um quarto do território), Filipe dominou sobre outro quarto, enquanto Arquelau dominou sobre dois quartos, sendo chamado de etnarca. O quadro abaixo talvez torne mais clara a divisão:
Informações Interessantes
1) Pilatos > Herodes > Pilatos
No início do domínio romano sobre a palestina, o Imperador preferia que um líder local governasse as províncias, pois estaria mais familiarizado com assuntos sociais e religiosos que um estrangeiro. Estas funções foram assumidas pelos descendentes de Herodes, e cada descendente assumiu determinada região. Quando um destes (Arquelau) morreu, o Imperador estabeleceu procuradores romanos para substituí-lo no governo de sua jurisdição (região da Judéia e Samaria). Entre os anos 26 e 36, este cargo foi ocupado por Pôncio Pilatos, responsável pelos assuntos diretamente ligados ao Império na região da Judéia. Jesus foi encaminhado a Pilatos, governante da Judéia, sendo acusado de insurreição política e de blasfêmias religiosas. Pilatos O interrogou, mas como não achou nele culpa, achou melhor não decidir nada sumariamente. Quando descobriu que Jesus era galileu, usou isso como pretexto para enviá-lo para Herodes, que era o responsável por aquela outra jurisdição. Herodes, por sua vez, também não viu motivo para condená-lo, então, após permitir que seus soldados espancassem a Jesus, O enviou de volta a Pilatos, entendendo que era responsabilidade dele, não sua. Pilatos, por sua vez, mesmo O tendo por inocente, condena-O à crucifixão, para satisfazer os sacerdotes e líderes judeus.
2) Sinédrio
O Sinédrio, ou Conselho, era um grupo de judeus que tinha a missão de administrar a justiça, interpretar e aplicar a Lei, tanto escrita (Torá) quanto oral (Tradição), representar os judeus perante a autoridade romana, etc. Repare que sinédrio é o nome de um grupo de pessoas, e não de um local ou edificação! Eles julgavam acusações de blasfêmia, como nos casos de Jesus (Marcos 15.1) e Estevão (Atos 6.9), e também participavam na justiça criminal. O Sinédrio só não tinha autoridade para executar a pena capital, levando casos que exigissem essa punição ao governador romano, embora alguns escritos deem a entender que, em certos casos, eles tiveram essa liberdade. Sinédrio provém das palavras gregas sin (junto) e edrio (sentar), por isso é também chamado de “Assembleia Sentada”, pois os membros se sentavam num semicírculo para decidir as questões. Segundo uma tradição, sem provas fundamentais, o Sinédrio foi uma reimplantação do Conselho de Moisés, que juntamente com setenta anciãos, desempenhava tarefas de administração da justiça do povo. (Êxodo 24.9) Na época dos reis, esse Conselho parece ter se extinguido, mas os judeus trouxeram-no à existência novamente, talvez durante o período persa. O Sinédrio se reunia diariamente no Templo, e dentre seus membros, podemos citar alguns ilustres, como Gamaliel (Atos 5.34), Nicodemos (João 3.1) e José de Arimatéia (Marcos 15.43). Havia dois tipos de Sinédrio:
Sinédrio Maior: Era a “Corte Suprema”, julgando casos mais graves e apelações dos Sinédrios Menores. Localizado em Jerusalém, era composto por 71 juízes, sendo um sumo sacerdote, que era o presidente do grupo, o chefe da Sinagoga, que era o segundo membro em importância, e supervisionava os procedimentos administrativos internos, e sessenta e nove outros membros, distribuídos entre anciãos e escribas, que cuidavam das discussões, administravam as grandes quantias de dinheiro e ofertas que entravam no Templo, pagavam o salário dos sacerdotes e trabalhadores, etc. Os escribas, embora não fossem os membros principais, eram profundos conhecedores da Lei, amplamente treinados em teologia, direito e filosofia.
Sinédrio Menor: Cada cidade poderia ter seu próprio Sinédrio Menor, que se reportava ao Maior em casos mais graves ou controversos. Era formado por um grupo de 23 juízes, e exercia basicamente as mesmas funções do Maior, mas em escala menor, conforme o tamanho da cidade.
Depois da queda de Jerusalém em 70, o sinédrio ou conselho entrou em decadência e desapareceu.
3) Pretório
A princípio, o pretório era o nome dado à tenda de um general romano num campo de batalha, mas com o passar do tempo, este nome foi atribuído ao local onde o governador ou procurador romano de uma cidade morava. No Novo Testamento, lemos sobre o pretório em versículos como Mateus 27.27, Marcos 15.16 e João 18.28, e em algumas dessas passagens, o local também é chamado de . Grosso modo, podemos dizer que é como o Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, onde vive o nosso governador, porém, no pretório, além de ser a residência do procurador, também se tratava e julgava questões administrativas, jurídicas e criminais. Foi no pretório de Pôncio Pilatos (procurador romano da Judéia) que Jesus foi julgado e condenado à morte. Este pretório também era chamado de , um suntuoso palácio erigido por Herodes, o Grande. O termo vem do latim Praetor, que significa líder, e era o nome romano dado ao procurador ou líder de uma campanha militar. A “Guarda Pretoriana” era a equipe de soldados que zelava pela segurança do líder e do pretório.
4) Sinagoga
As sinagogas (ou “assembleias”) eram as casas de adoração dos judeus. Ali eles cultuavam a Deus, aprendiam, meditavam e estudavam a Lei, julgavam casos civis, recebiam orientações sociais em geral, eram exortados e repreendidos pelos líderes, aprendiam a ler e escrever e eram instruídos a respeito do judaísmo, além de entregarem suas esmolas, ofertas e dízimos. As sinagogas provavelmente surgiram quando os judeus exilados na Babilônia, agora com seu templo destruído, sentiram a necessidade de se reunir para orar e meditar na Lei, visando não perder essa valiosa tradição e costume. No livro de Neemias, vemos que a comunidade de exilados se juntava e ouvia o escriba ler a Lei de um púlpito, interpretando-a para que todos pudessem compreendê-la, e foi assim que eles passaram a se reunir em outros espaços, pois não tinham mais seu suntuoso Templo! A princípio, as sinagogas estavam ligadas aos escribas, que reuniam o povo para ensinar sobre a Torá e os Profetas. Como é interessante lembrar, naquela época não havia imprensa nem copiadora, então as Escrituras eram feitas à mão, sendo raros os locais que contavam com uma cópia dela. Desta forma, a princípio não havia muitas sinagogas, mas com o passar do tempo, elas se multiplicaram, tanto pelo aumento de cópias dos rolos (necessários em cada sinagoga), quanto pela dispersão dos judeus, aumentando a necessidade de mais pontos de encontro. Havia muitas sinagogas na região Palestina (Atos 6.9; 13.5; 13.14; 17.1) e, segundo alguns historiadores, um grupo com dez homens judeus já era suficiente para abrir uma nova unidade. Na sinagoga, os membros mais importantes eram os anciãos, também chamados de chefes ou príncipes (Marcos 5.22; Lucas 13.14), homens com autonomia e autoridade para julgar casos, disciplinar, excomungar e até mesmo açoitar os culpados. (Mateus 10.17; João 9.22; 12.42; Atos 9.2) Os anciãos tinham um assistente que cuidava da sinagoga, zelava pelos rolos, etc. (Lucas 4.20). A ordem do culto numa sinagoga era parecida com a ordem descrita no capítulo 8 de Neemias: Confissão da fé, recitação de trechos como Deuteronômio 6:4-9, oração, leitura de outros trechos da Lei e encerramento com oração e bênção. Qualquer um que fosse qualificado e conhecedor da Lei poderia falar ao povo, com a autorização dos anciãos, como faziam Jesus e o apóstolo Paulo. (João 18.20; Atos 18.4) Até os dias de hoje, a sinagoga é o principal local de culto dos judeus.
5) Sacrifícios
Os judeus são profundos seguidores da Lei, e no Antigo Testamento, o Senhor ordenava que apenas os sacerdotes oferecessem, no Templo, sacrifícios pelo povo. O primeiro templo foi o Templo de Salomão (1 Reis 5.5; 6.38), que de tão maravilhoso, consta entre as Sete Maravilhas do Mundo Antigo! Em 586 a.C., os babilônios destruíram o Templo (2 Reis 25.9), e os judeus ficaram sem oferecer sacrifícios por algumas décadas. No retorno do exílio, o povo reconstruiu o templo, agora chamado de Templo de Zorobabel, pois foi construído por ele, juntamente com outros homens. (Esdras 4.3; 5.2; 6.3) Isso aconteceu por volta de 516 a.C., e o povo voltou a oferecer seus sacrifícios. Com o passar do tempo, chegando aos dias de Jesus, o Templo de Zorobabel acabou se desgastando, afinal, estava erigido há mais de cinco séculos, e passou por diversos conflitos, dificuldades, como as profanações do rei sírio Antíoco. Herodes, o Grande, se aproveitou dessa situação, e, para ganhar a simpatia do povo judeu, reedificou e restaurou este templo, que passou a ser chamado de Templo de Herodes. Este, por sua vez, foi totalmente destruído no ataque do ano 70, de forma que, desde então, os judeus não oferecem mais sacrifícios. Os judeus messiânicos, que creem em Jesus como Messias, não oferecem, pois entendem que Jesus já se ofereceu, consumando essa prática cabalmente, mas os judeus tradicionais, ou ortodoxos, só não oferecem mais sacrifícios porque não têm um templo, local em que, segundo a Torá, deveriam ser oferecidos tais holocaustos, sob a supervisão de um sacerdote. A famosa Mesquita de Omar foi construída exatamente sobre as ruínas do antigo Templo.
Bom, como o objetivo deste artigo é analisar o período intertestamental, ou seja, o período sem registros bíblicos, entre o Antigo e o Novo Testamento, vou finalizando por aqui, na esperança de ter te ajudado na compreensão do contexto político-social do início da Era Cristã, de forma bem resumida. Que Deus te abençoe!
Eduardo Feldberg