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Israel - O Relógio de Deus?

Por Eduardo Feldberg - Agosto/2010

 

”Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas,

sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas.

Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Mateus 24.32-34 (ACR)


 


Alguma discordância tem sido gerada com relação à volta de Cristo, devido a esses três versículos, afinal, a partir das diferentes interpretações deles, têm se aventado datas para este grande e esperado evento. Alguns cristãos têm pregado com toda convicção:

 

- Jesus garantiu que a geração que contemplar a figueira brotar verá a vinda do Filho do Homem! Sabemos que na Bíblia, a Figueira representa Israel, então a geração que contemplar o renascimento de Israel será a última!

 

 

Valendo-se deste raciocínio, alguns descuidados afirmam que "Israel é o Relógio de Deus", mas será que é realmente essa a “Lição da Figueira” que Jesus nos quis revelar? E, se foi, será que Suas palavras têm sido interpretadas corretamente? É isso que estudaremos neste breve artigo.

 

 

 

O CONTEXTO

 

 

O capítulo 24 do Evangelho de Mateus é considerado um “mini-apocalipse”, pois trata de assuntos escatológicos. Ele se inicia com os discípulos de Cristo perguntando ao Mestre quando será o fim dos tempos, e quais sinais evidenciarão a Sua segunda vinda e o fim do mundo (v. 3). Em seguida, Jesus começa a falar sobre estes sinais. A primeira orientação de Jesus é sobre a vigilância e atenção dos discípulos, para que não sejam enganados, pois muitos tentariam prever Seu retorno e até mesmo se passar por Jesus Cristo. Jesus orienta os cristãos a serem atentos, e não caírem nessas previsões fajutas, nem nos golpes dos falsos mestres que viriam enganar a muitos (vs. 4 e 5). Em seguida, o Mestre cita as muitas guerras, terremotos, fome, tormentos, falta de amor e outros sinais presentes no decorrer dos séculos, que precederiam o arrebatamento (vs. 6-14). Após isto, Cristo fala sobre a vinda do Anticristo, suas tentativas de enganar o povo de Deus (vs. 15-29), e, por fim, fala sobre Sua Segunda Vinda, com poder e glória (vs. 30-31).

 

Após dizer tudo isso, Cristo usa uma pequena parábola (v. 32), para que o povo entenda melhor, e com um exemplo prático, que todos estes sinais serão evidências da proximidade do fim dos tempos!

 

 

 

E ONDE ESTÁ O PROBLEMA?

 

 

O problema está justamente na interpretação desta pequena parábola! Muitas pessoas tentam literalizá-la, e acabam extraindo ideias divergentes. A parábola é a seguinte:

 

 

”Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão.” (A parábola já se encerra aqui, e então, Jesus continua o discurso) ”Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Mateus 24.32-34 (ACR)

 

 

A interpretação mais comum desta pequeníssima parábola é a seguinte:

 

 

A) “Jesus afirma” que a geração que contemplar o brotar da figueira verá o arrebatamento;

B) Na Bíblia, a nação de Israel é representada por uma figueira;

C) Logo, a geração que vir o renascimento de Israel verá o arrebatamento.

 

 

E então, iniciam-se as especulações:

 

A) O Estado de Israel renasceu em 1948;

B) Na Bíblia, uma geração dura cerca de 40 anos;

C) Logo, Jesus voltará entre 1948 e 1988.

 

 

Outros entendem de outra forma:

 

A) O estado de Israel renasceu em 1948;

B) Na Bíblia, uma geração dura cerca de 70 anos;

C) Logo, Jesus voltará entre 1948 e 2018.

 

 

Enquanto alguns, menos esperançosos, calculam:

 

A) O estado de Israel renasceu em 1948;

B) Na Bíblia, uma geração pode durar até 969 anos (idade de Matusalém);

C) Logo, Jesus voltará entre 1948 e 2917.

 

 

 

MAS FOI ISSO MESMO QUE JESUS QUIS DIZER?

 

 

Vamos analisar! Para interpretar trechos bíblicos e extrair seus corretos significados, os estudiosos se valem da Hermenêutica e suas regras, mas para extrair o significado correto deste texto, especificamente, não vejo necessidade de aplicar nenhum método profundo, além de uma simples leitura, calma e atenciosa, suficiente para captarmos a ideia deste texto. Vamos ler novamente o que Cristo falou:

 

 

”Aprendei, pois, esta parábola da figueira: Quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que está próximo o verão. Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. (ACR)

 


Agora, vou parafrasear e florear o texto, sem abandonar sua intenção original:



- Meus queridos discípulos, vocês querem saber quando será o fim dos tempos? Está bem, vou lhes dar um exemplo: Quando uma árvore começa a dar folhas e frutos, vocês não concluem que o verão está chegando? Da mesma forma com que vocês percebem que o verão está chegando pelo esverdear das folhas da figueira, saibam que o fim está chegando, baseando-se nos sinais que acabei de lhes falar!

 


Em nenhum momento, Jesus disse:

 

 

  • Que a Figueira simbolizava Israel

  • Que esta parábola deveria ser entendida literalmente!

  • Que a geração que visse esse “desabrochar” veria a Volta de Cristo!          

 

 

 

 

CUIDADO! ISSO É UMA PARÁBOLA!

 

 

Antes de prosseguir, precisamos recordar que uma parábola é uma história que contém ensinamentos, ou, segundo o Dicionário Michaelis, uma “narração alegórica que contém algum preceito moral”. Numa parábola, os objetos, personagens e fatos são sempre fictícios, portanto, Jesus usou uma história fictícia, com uma figueira fictícia, com folhas fictícias, simplesmente para elucidar o assunto que já estava falando. Foi apenas um complemento para clarear ainda mais o que estava sendo dito. Se Jesus quisesse afirmar que a figueira da parábola representava Israel, não o faria por meio de uma parábola (onde tudo é fictício), mas sim, por meio de uma metáfora, ou símile, mas não foi o caso.

 

Diz-se que a figueira é o símbolo de Israel, por haver comparações entre ambos em alguns textos bíblicos, como Jeremias 24 ou Oséias 9.10, porém, é fato que Israel também é representado por diversas outras coisas na Bíblia, como oliveiras (Oséias 14.6), videiras (Oséias 9.10), então não é válido pensarmos que, só porque em alguns versículos, Israel foi comparado a uma figueira, toda figueira na Bíblia represente Israel. Além disso, no contexto bíblico, a figueira, assim como a videira, é uma das árvores mais comuns (aparece quase quarenta vezes nas Escrituras), portanto, faz sentido entender que Jesus escolheu uma figueira, simplesmente por ser uma árvore comum, presente no cotidiano dos ouvintes, e não por querer figurar Israel. É interessante notar que esta passagem é repetida nos três primeiros evangelhos, e na narrativa de Lucas, o autor acrescenta algo importante:

 

 

“E Jesus lhes contou uma parábola: Observem a figueira, ou qualquer outra árvore: Quando elas brotam, vocês mesmos percebem e sabem que o verão está próximo.” Lucas 21.29-30 (NTLH – grifos do autor)

 

 

Ou seja, Lucas é mais claro ainda em mostrar que essa parábola não está tencionando representar o estado de Israel, ou seja, a figueira não tem nada a ver com a nação israelita, pois Cristo mesmo afirma que se trata apenas da observação de uma árvore qualquer, seja uma figueira ou qualquer outra árvore! Esta parábola é simplesmente uma narração, com uma árvore qualquer, e não há qualquer intenção de compará-la com o estado de Israel! O que Jesus quis dizer foi simplesmente que, assim como o esverdear das folhas de uma figueira, ou de outra árvore qualquer, evidencia a proximidade do verão, o multiplicar dos desastres também evidenciará o fim dos tempos!

 

 

 

QUE QUER DIZER "ESSAS COISAS"?

 

 

Nos versículos 33 e 34 de Mateus 24, lemos o seguinte:

 

“Igualmente, quando virdes todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração, até que todas essas coisas aconteçam.”

 

 

Mas que “coisas” são essas? Para assegurar aquele raciocínio errôneo, citado em azul na introdução deste artigo, é preciso entender que “estas coisas” referem-se ao florescer e desabrochar da figueira, porém, é óbvio que “estas coisas” não são referências ao “florescer da figueira” da parábola, afinal, aquela era apenas uma figueira fictícia! Não se vê algo fictício, salvo em nossa imaginação. Pedir pra alguém ver o florescimento desta figueira é o mesmo que pedir que alguém “encontre o Filho Pródigo” ou “tosquie a Centésima Ovelha” de Lucas 15! Isso não é possível, pois tanto o Filho Pródigo e a Centésima Ovelha, quanto a Figueira deste capítulo são fictícios. Podem representar algo ou alguém, mas apenas por representação, não por realidade física! O Filho Pródigo e a Centésima Ovelha podem representar aqueles que abandonam, os braços do Pai, porém, com relação à Figueira, já vimos que ela não visa representar algo ou alguém, pois como Cristo disse, trata-se apenas de um exemplo de uma árvore, como qualquer outra. Desta forma, podemos entender que “essas coisas” que Jesus diz referem-se aos sinais que Ele estava falando anteriormente, dos versículos 5 a 23, como os terremotos, guerras, fome, etc.

 

É coerente entender desta forma, afinal, as palavras referentes à figueira já haviam se encerrado! Repare que a parábola durou apenas um versículo (v. 32), e isso é perceptível, pois no verso 33, Jesus já não está mais contando uma história, mas sim falando diretamente com seus ouvintes, com suas próprias palavras e conclusões. A parábola já se encerrara, e Jesus retomou o discurso que começara no verso quatro deste capítulo, portanto, voltou a falar dos desastres naturais, fome, e não da figueira. Ele quis dizer:          
 


- Quando virdes estas coisas (terremotos, fome, guerras...), saibam que ele está próximo, às portas.

 

E não:
 

- Quando virdes estas coisas (a figueira brotar), saibam que ele está próximo, às portas.         
 


Jesus simplesmente finalizou a ideia que tinha expressado na parábola, de que quando as coisas ruins previstas nos versículos 5-23 acontecessem, o fim estaria próximo. Estas são as “coisas” a que Ele se referiu.

 

 

 

QUE QUER DIZER "ELE ESTÁ PRÓXIMO"?

 

 

Continuando nossa análise textual, lemos em Mateus 24.33:

 

“Assim também, quando virem todas estas coisas, saibam que ele está próximo, às portas.” - Mateus 24:33

 

 

Alguém pode perguntar: “- Quem é o sujeito dessa frase (ele)?”, e para responder a isto, vamos conferir as passagens paralelas deste texto. Vamos comparar os três versículos bíblicos que falam sobre este texto (Mateus 24.33, Marcos 13.29 e Lucas 21.31) em duas traduções diferentes (respectivamente ACR E NTLH):

 

 

Mateus 24.33:

 

“Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas.”

“Assim também, quando virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que o tempo está perto, pronto para começar.”

 

 

Marcos 13.29:

 

“Assim também vós, quando virdes sucederem estas coisas, sabei que já está perto, às portas.”

“Assim também, quando virem acontecer essas coisas, fiquem sabendo que o tempo está perto, pronto para começar.”

 

 

Lucas 21.31:

 

“Assim também vós, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Reino de Deus está perto.”

“Assim também, quando virem acontecer aquelas coisas, fiquem sabendo que o Reino de Deus está para chegar.”

 

 

Na leitura de Mateus e Marcos, fica alguma dúvida sobre o que acontecerá quando “todas aquelas coisas forem vistas”, porém, Lucas esclarece, informando que o que procederá estes sinais é a manifestação do Reino de Deus, ou seja, neste contexto escatológico, o retorno de Jesus Cristo, que implantará o Reino de Deus de forma definitiva. É isso que estará bem próximo, quando todos aqueles sinais forem vistos e intensificados! Desta forma, quando Mateus e Marcos afirmam “ele está próximo”, estão se referindo ao “fim dos tempos”, ou ao “Filho do Homem” (Jesus), em sua segunda vinda.

 

 

 

DE QUE GERAÇÃO JESUS ESTAVA FALANDO?     

 

 

Em Mateus 24.34, lemos a firmação de Jesus, dizendo:

 

“Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.”

 

Como podemos notar, Jesus não disse claramente que “a geração que visse essas coisas seria arrebatada”, como afirmam alguns, mas disse apenas que “não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam.” Como podemos entender este versículo?

 

Aqui, a palavra “geração” é uma tradução do termo grego γενεα, que, como termo polissêmico, tem mais de um significado. Além de significar “geração” no sentido de “duração da vida”, pode significar também “raça”, no sentido de “conjunto de ascendentes e descendentes de um mesmo povo” (neste caso, os israelitas), ou ainda “esse tipo de geração perversa”, com relação à humanidade, como um todo. Sendo assim, o versículo pode ser traduzido e interpretado das seguintes formas:

 

 

1) “A geração que vir estas coisas acontecerem não passará, até que...” (Talvez no sentido de que todas as pessoas que virem a intensificação destes acontecimentos fatídicos - terremotos, guerras, etc. - comporão a última geração a viver antes da segunda vinda de Cristo.)          

2) “Esta geração que está me ouvindo não passará, até que...”; (Talvez no sentido de que, quando essas coisas acontecerem, os ouvintes de Jesus ainda estarão vivos.)        

3) “A raça de vocês, que estão me ouvindo, não passará, até que...” (Talvez no sentido de que, quando todas aquelas coisas acontecerem, os israelitas ainda existirão, ao contrário de alguns povos e raças que se extinguiram nos meandros dos séculos.)

 

4) “A humanidade não passará, até que...” (Talvez no sentido de que, quando essas coisas acontecerem, a humanidade ainda estará viva, e presenciará todas estas tragédias.)

 


Etimologicamente, qualquer uma das alternativas acima pode ser uma opção de tradução do texto, porém, semanticamente, fica difícil afirmar com exatidão a mais correta interpretação destas palavras.

 

 

 

JESUS DARIA UMA PREVISÃO TÃO CLARA DA DATA DE SEU RETORNO?

 

 

Os que afirmam que estes versículos se relacionam com o ressurgimento de Israel asseguram que Jesus provavelmente voltará durante o período de vida da geração que visse o Estado de Israel ser criado (fato ocorrido em 1948), mas será mesmo que Jesus daria uma previsão tão clara e relativamente específica, da data de seu retorno? Sem dúvidas, não!  

 

A Palavra de Deus é muito clara ao afirmar que ninguém sabe quando se dará a volta de Cristo, a não ser o próprio Deus (Mateus 24.36). Lemos em Mateus 24.37-39 e I Tessalonicenses 5.2 que a volta de Cristo será como a inesperada “visita” de um ladrão, ou como o Dilúvio, que veio repentinamente. A não revelação da data exata é proposital. Deus optou por agir assim para que Seu povo permaneça em todo tempo preparado, e não apenas quando entender que Cristo está voltando! Em Mateus 24.42, Jesus nos orienta a mantermo-nos sempre atentos e vigilantes. Se continuarmos lendo o capítulo 24 e 25 de Mateus, veremos que Jesus discursa justamente sobre isso: a necessidade de estarmos sempre preparados! No verso 46, Jesus diz algo como “feliz é o servo que estiver preparado quando o Senhor voltar”, enquanto no capítulo seguinte, fala sobre as cinco virgens, que cansaram de esperar o noivo e começaram a desanimar e “baixar a guarda”, em vez de manterem-se preparadas!

 

Há um motivo para o mistério da volta de Cristo, e o motivo é justamente esse, de fazer com que todos os servos do Senhor, de todas as épocas e lugares, se mantenham sempre preparados, com o óleo, com o Espírito Santo, em vez de ficarem tentando adivinhar a hora do retorno, para poderem se consagrar no “final do segundo tempo”. Se realmente Jesus estivesse falando do renascimento do Estado de Israel, Ele estaria dando uma boa previsão para todos nós, cristãos atuais, de quando será a volta de Cristo, afinal, a geração que visse Israel renascer seria a última, e isso seria o suficiente para muitos ficarem tentando adivinhar quando será a volta do Rei, e isso é algo que Deus não deseja, afinal só Ele sabe! (Mateus 24.36) Isso sem falar que todos os cristãos que viveram entre os anos 70 e 1948 d.C. poderiam afirmar que Jesus não estava “às portas” ainda, afinal, durante todos estes séculos, os israelitas foram desterrados, expatriados e perseguidos, então Jesus não estava nem perto de voltar, segundo a interpretação errônea da Parábola da Figueira.

 

 

 

JESUS SABIA A HORA QUE VOLTARIA?

 

 

Jesus Cristo foi claro ao afirmar que nem mesmo Ele (em seu ministério terreno) sabia a hora de Sua segunda vinda (Mateus 24.36), então como Ele poderia prever que viria logo após 1948? Seria o mesmo que alguém dizer:    
 


- Eu não faço idéia de quando voltarei para te buscar. Só meu pai sabe. Não adianta você me perguntar isso agora, pois no momento, não tenho esta informação, mas fique preparado, pois entre às 16h e 17h, eu virei te buscar.

 

Isto é contraditório! Se em dado momento eu desconheço um fato, como poderia neste mesmo momento dar dicas sobre este fato que desconheço? Se naquele momento, Jesus, em Seu “esvaziamento divino” (Filipenses 2.7), não sabia quando seria Seu retorno, como poderia enquadrar este acontecimento num ínterim de quarenta ou setenta anos (prazo relativamente curto, imersos numa era cristã tão longa)? O que Jesus disse foi apenas aquilo que é mais “intuitivo”, ou seja, que o fim acontecerá quando as coisas estiverem realmente terríveis, insuportáveis.

 

- Puxa, Eduardo! Mas mesmo assim, nós continuamos tendo um parâmetro para especular quando será o retorno?

 

 

De certa forma, sim! Baseando-nos nos versículos de Mateus 24, é possível dizermos que Cristo retornará quando as coisas estiverem insuportáveis, mas isso não é algo muito específico, pelo contrário, é algo bem vago, afinal, estes sinais que Cristo nos pontuou foram sinais que se avultaram em todas as gerações da era cristã, ou seja, Jesus não permitiu que ninguém tivesse um parâmetro infalível para calcular Seu regresso! Alguém pode dizer:

 

- Discordo! A nossa é a última geração, pois as coisas estão terríveis! Vivemos o ápice da maldade e destruição!       

   

 

Todavia, essa foi uma sensação e percepção que todos, de todas as gerações, de todas as épocas tiveram. Inclusive, acredito que a nossa geração não é nem de longe a pior geração, com os maiores problemas, os maiores desastres da história da humanidade. Particularmente, entendo que nos nossos dias, é mil vezes mais fácil viver, do que na “Idade das Trevas”, onde pestes eliminavam um terço da Europa, cristãos eram perseguidos diariamente e utilizados como tochas humanas em vias públicas, a Igreja era totalmente (e não parcialmente) corrompida e alheia à Palavra de Deus, além de guerras entre os povos e nações, muito mais intensas que as hodiernas. Os tempos estão ruins, mas creio que não tão ruins quanto já foram. A tecnologia aumentou, e trouxe criatividade também voltada para o mal, mas, pessoalmente, acho que a crueldade do homem atual não é expressa de forma tão grande quanto no passado.   
 

 

 

MAS ESSA QUESTÃO É TÃO IMPORTANTE ASSIM?

 

 

Acho interessante considerarmos tudo que há na Bíblia como importante, e o ideal é que saibamos e compreendamos tudo que nela há. Pelo menos tudo aquilo que pudermos! (Dt. 29.29) Esta questão, em particular, é importante, pois devido às más interpretações destes versículos, muitos têm tentado adivinhar quando será o retorno de Cristo - o que é uma tentativa inútil e arriscada. Inútil, pois o próprio Cristo nos disse que ninguém sabe quando será Sua vinda, e que não adianta nem tentar prever, afinal, será algo inesperado, como um ladrão na noite; arriscada, pois com essa ideia de que “a última geração será a que vir Israel renascer”, surgem várias especulações que acabam enganando a muitos, e colocando ideias vãs na mente dos cristãos. Por exemplo:

 

 

1) Alguns estudiosos entendem que, na Bíblia, uma geração dura 40 anos (como a geração do deserto – Números 32.13). Desta forma, se Israel renasceu em 1948, o arrebatamento se realizaria até 1988, o que não ocorreu, e muitos foram enganados!

 

2) Outros afirmam que uma geração dura em média 70 anos, afinal, foi essa a expectativa média sugerida por Moisés (Salmos 90.10). Crendo assim, afirmam que a volta de Cristo ocorrerá até 2018, ou seja, daqui a poucos anos. Quando estiverem em 2016, afirmarão que Jesus terá dois anos para voltar, e se chegarem ao dia 31/12/2017, provavelmente milhares de pessoas subirão no topo de prédios para serem arrebatadas primeiro!

 

3) Outros afirmam que uma geração dura em média 120 anos, afinal, foi essa a previsão deixada em Gênesis 6.3, então Jesus deve voltar entre 1948 e 2068!

 

4) Alguns já fazem os cálculos de forma diferente: Dizem que, embora os israelitas tenham se reunido em 1948, só foram oficialmente reconhecidos como nação em 1967, portanto é a partir deste ano que os cálculos devem ser feitos, criando mais uma série de possibilidades.

 

 

Se todos esses cálculos fossem verdadeiros, o evento não seria mais tão inesperado assim, muito pelo contrário, seria quase que “friamente calculado” e previsível. Como sabemos, na história do cristianismo, já se evidenciaram muitos “adivinhos” querendo datar a volta de Cristo, e todos erraram, afinal, não é possível precisar quando será o sumo retorno! Assim como não se sabe a hora do ataque de um ladrão, Jesus não deu margens para sabermos quando Ele voltará, justamente para que nos mantenhamos preparados... em todo o tempo!

 

  •  

 

CONCLUSÃO

 

 

Resumindo o capítulo (e o artigo), Jesus apenas discorreu sobre uma série de sinais que precederiam o fim dos tempos, e afirmou que, assim como sabemos que o verão está próximo pelo esverdear das árvores, o fim estará próximo pela degradação da criação, tanto da humanidade quanto da natureza. No versículo 34, Ele pode ter dito que os israelitas ainda existiriam quando Cristo voltasse, ou que a geração que visse o retorno do Rei certamente veria todos estes sinais.

 

 

Devemos ter cuidado para não cairmos no erro dos fariseus, de sobrepujar a Palavra de Deus com teorias e especulações humanas, baseadas em interpretações erradas, mesmo que inocentemente. Eu mesmo afirmei por muito tempo, em meu blog, que o retorno de Cristo se daria até 2018, baseando-me nas palavras de terceiros. Ouvi, cri, mas não fui como os bereanos, que conferiam tudo na Palavra. (Atos 17.11) No dia que resolvi ler com calma estes versículos, notei que não tinha base para a ideia que havia adotado.     


Jesus não deixou nestes versículos nenhuma resposta clara e limitativa, a não ser a afirmação de que, exceto o Senhor, ninguém sabe quando se dará Sua segunda vinda, e nos advertiu que, assim como prevemos algumas coisas olhando a natureza, podemos prever o fim dos tempos com o aumento da dor, maldade e destruição no mundo.

 

Obviamente, o passar do tempo só nos deixa mais próximos do fim, mas não deduzo isso baseando-me na criação do Estado de Israel, ou necessariamente no número de desastres que ocorrem, mas sim por saber que, de uma forma ou de outra, a geração presente invariavelmente será sempre a mais próxima do fim, isto é, de todas as gerações que já viveram nesta terra, certamente nós somos a mais próxima do Grande Retorno, mas podemos não ser a última!

 

 

 

Eduardo Feldberg

www.eduardofeldberg.com.br 

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