top of page

Imanência e Transcendência de Deus

Por Eduardo Feldberg - Maio/2006

 

A Bíblia nos fala acerca de Deus e da criação, e nos deixa claro que Deus é distinto de Sua criação. Ele não é parte dela, pois foi Ele quem a fez e a governa, tampouco depende dela, de forma alguma. Pelo contrário, a criação é quem depende d’Ele, afinal, mesmo sem a criação, Deus seria Deus, autossuficiente, autônomo, o grande “Eu Sou”. Tanto que Ele já existia antes de Sua criação (Gênesis 1.1).

 

O substantivo freqüentemente usado para expressar a superioridade de Deus em relação à Sua criação é “transcendência”, termo que, no dicionário, tem a seguinte definição:

 

 

“Qualidade do que é transcendente; que transcende; superior; sublime.”

 

 

Encontrei também a definição filosófica deste termo:

 

 

“Transcendente é o ser cuja existência não é demonstrada pela experiência,

pois a ultrapassa, mas que é necessário para compreender a nossa experiência; Deus.”

 

 

Em suma, isso significa que Deus está muito “acima” da criação no sentido de que é maior que ela, e independente dela. Na teologia sistemática, transcendente é o termo que expressa a superioridade de Deus para com Sua criação, mas não uma superioridade mensurável. Transcendência expressa uma superioridade ilimitada. Deus não é simplesmente o “mais elevado dos seres”, pois se dissermos apenas que Ele é superior a nós, alguns ousariam medir ou comparar a diferença entre os graus de conhecimento, sabedoria e poder entre o homem e Deus, porém, essa diferença é incomensurável, pois Deus é infinitamente superior a nós e não se limita ao nosso nível de compreensão e entendimento. Deus não é uma mera qualidade natural ou humana. Ele é infinitamente soberano, supremo, superior, transcendente.

 

Em contrapartida, ao mesmo tempo em que Deus transcende Sua criação, se envolve com ela. O Criador não depende da criação para subsistir, contudo, a criação depende do Criador para subsistir e funcionar. O termo usado para expressar essa relação é “imanência”, definida no dicionário como:

 

 

“Qualidade do que é imanente; permanência; que persiste; que reside na própria essência do todo.”

 

 

Deus está envolvido com Sua criação, não porque “Ele” precisa, mas porque “ela” precisa. A criação permanece em Seu Criador, pois não funciona sem Ele. Como li num artigo, “Deus não é uma divindade abstrata, removida da criação e sem interesse nela”. Muito pelo contrário, a Bíblia nos revela um Deus que se importa com a criação - não apenas com Seus filhos, mas com a criação em geral -, e se mostra um Deus amoroso, pessoal, empático, envolvido com Sua criação, pois ela é dependente.

 

Sua influência está em toda a parte, porém, Ele apenas nos permite viver. Não se “intromete” em nossas vidas particulares, não tira nosso livre-arbítrio, mas simplesmente nos mantém vivos, com nossos próprios gostos, características e escolhas. O Senhor atua de diversas formas sobre Sua criação. Não apenas sobrenaturalmente, mas também valendo-se de meios naturais, tais como a tecnologia, a ciência, nosso conhecimento, etc.

 

 

Sobre a “imanência de Deus”, há duas linhas de interpretação. A primeira diz que “imanente é aquilo que é substancialmente parte de um ser”. Se levarmos em conta essa ideia, chegaremos a outras duas conclusões heréticas:

 

1) Se a criação é parte do Criador, a criação é divina, e dessa visão, sugeriríamos o panteísmo, por exemplo.

 

2) Se a criação é parte do Criador, o Criador tem ligação intrínseca com a criação, e está de certa forma preso a ela. Os gnósticos defendem essa ideia.

 

 

A segunda linha (plausível e legítima) diz que Deus é imanente ao mundo, não porque a substância das criaturas é inerente à substância divina, mas porque depende dela para existir. Deus é transcendente sobre a criação (isto é, superior e independente) e ao mesmo tempo é imanente sobre ela (pois a dependência da criação por Seu criador O faz aproximar-se e envolver-se com ela). A criação é distinta de Deus, porém, sempre dependente d’Ele.

 

Para evitarmos conclusões equivocadas e heresias, é importante salientarmos duas coisas:

 

1) Deus não depende de Sua criação!

2) A criação não é parte de Deus!

 

 

Vejamos agora alguns versículos que embasam estas duas doutrinas:

 

 

IMANÊNCIA

 

Jó 12.10: “Em Sua mão está a vida de cada criatura e o fôlego de toda a humanidade.”

Atos 17.25, 28: “Deus dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas [...] N’Ele nos movemos, vivemos e existimos.”

Colossenses 1.17: “Em Cristo tudo subsiste.”

Jeremias 23.24: “Ocultar-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? Porventura não encho eu os céus e a terra?”

 

 

TRANSCENDÊNCIA

 

Isaías 55.8, 9: “Meus pensamentos não são os vossos pensamentos. Meus caminhos não são os vossos caminhos pois assim como os céus são mais altos que a terra, meus caminhos são mais altos que os vossos e meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos.”

 

 

IMANÊNCIA E TRANSCENDÊNCIA

 

Jeremias 23.23: “Acaso sou Deus apenas de perto, e não também de longe?”

Efésios 4.6: “Um só Deus e Pai de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos.”

Isaías 57.15: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.”

 

 

 

 

Eduardo Feldberg

www.eduardofeldberg.com.br
bottom of page