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Análise do Hino Nacional Brasileiro

Por Eduardo Feldberg - Abril/2010

Apesar de alguns brasileiros amarem todos os lugares do mundo, e elogiarem todos os cantos da Terra, menos o país em que vivem, existem muitos outros que amam nossa terra, e, como um destes, procuro ser, na medida do possível, um cara patriota. Como bom brasileiro, amo nossa terra, nossa cultura, nossa história, nossa bandeira, nosso hino, mas, será que essa última admiração – por nosso hino - tem algum fundamento? Amar nossas terras, praias e paisagens é fácil! Basta abrir a janela de casa e apreciar o belíssimo pôr do Sol, ou abrir uma janela do Google, e visualizar a imensidão de cenários pitorescos de nossa nação. Amar nosso povo também é fácil, afinal, somos mundialmente conhecidos como um povo alegre, pacífico, receptivo. Nossa bandeira também é muito venerada. Infelizmente alguns só a respeitam quando está em cima de um pódio, mas para o bom brasileiro, ela sempre instiga um sentimento mais nobre, mais profundo. Creio que nossa bandeira empolga a grande maioria dos brasileiros, agora, amar inteligentemente nosso hino pode ser um pouco mais complicado, afinal, quem o entende?

 

Presumo que menos da metade da população sabe cantar nosso hino de cor. Da metade que sabe, é provável que apenas metade dela saiba o significado de todas as palavras utilizadas nele, e destes poucos que restam, imagino que apenas metade realmente entenda o que as frases do hino querem dizer, ou seja, seguindo os meus cálculos, de cada cem brasileiros, apenas doze entendem o que cantam, quando levam respeitosamente a mão direita ao peito. Vale dizer que estes cálculos não têm nenhum fundamento estatístico, e foram baseados apenas em meus chutes, mas, cá entre nós, aposto que o resultado está até acima da média real!

 

Até pouco tempo, eu me arrolava no grupo majoritário, que não entendia bulhufas. Impávido? Garrida? Lábaro? A princípio, parecia a escalação de algum time futebolístico português, mas depois de um tempo, descobri o significado de cada palavra, e pulei para o segundo grupo, dos que sabem o hino de cor, entendem as palavras, mas não pararam pra pensar no que estão cantando. Resolvi então analisar o hino, para melhor compreendê-lo e entender o que estou afirmando quando o canto.

 

A “música” do nosso hino foi composta em 1822, pelo professor e compositor Francisco Manuel da Silva, para comemorar a Independência do Brasil, declarada naquele mesmo ano. Com o passar do tempo, foi-se incluindo e substituindo versos e frases na música, para comemorar datas específicas, e muitos já a consideravam como o Hino do País, mas nada muito oficial. Após a Proclamação da República, em 1889, foi feito um concurso para escolher um Hino Nacional definitivo, e dentre as propostas, a música de Francisco se manteve como a melhor opção, embora tivesse uma letra diferente da que cantamos hoje. Isso se prolongou até 1909, quando foi feito um novo concurso para definição da letra definitiva do Hino Nacional, e o professor, poeta e escritor Joaquim Osório Duque Estrada trouxe à luz seu poema, que foi adaptado para a composição de Francisco, e venceu o concurso, tornando-se o texto de nosso hino. Alguns anos depois, em 1922, o então presidente Epitácio Pessoa enfim o oficializou como Hino Nacional Brasileiro.       

 

Assim sendo, a letra do nosso Hino Nacional foi escrita há mais de 100 anos, e sabemos que durante um século, muita coisa muda. Algumas palavras caem em desuso, formas de escrita são abandonadas, a ortografia é revista, e para uma boa compreensão do hino, precisamos atentar para a forma de escrita e composição de seu autor. Algo muito importante a se observar, por exemplo, é a constante utilização de versos escritos em ordem indireta, ou seja, se você o cantar pensando que as frases estão encaixadas ordenadamente, provavelmente não entenderá muita coisa, ou entenderá algo contrário à intenção do autor. Por exemplo, ouvindo a primeira frase “Ouviram do Ipiranga as margens plácidas...”, pode-se pensar que o autor quis dizer “Algumas pessoas ouviram, do Ipiranga até as margens plácidas...”, mas aquele “as” não é craseado. Houve ali uma inversão na ordem das palavras. Sintaticamente, a forma correta de se entender esta frase é “As margens plácidas do Ipiranga ouviram...”. Além disso, o autor se valeu de algumas palavras não mais utilizadas em nosso dia-a-dia, e, na rápida análise que farei abaixo, vou tentar descomplicar estes termos, “informalizar” o hino e parafraseá-lo, sem perder o sentido original dos versos, ordenando melhor as palavras. Não que estejam erradas, mas hoje, nosso vocabulário é um pouco diferente, então uma versão um pouco mais popular pode ajudar a compreender o centenário poema. Vamos logo ao que interessa!

 

Primeiro, escreverei uma alternativa de composição interlinear, ordenando e dando um sentido mais claro às frases, e em seguida, escreverei com minhas próprias palavras o que extrai de todo o Hino.

 

 

PARÁFRASE DO HINO NACIONAL BRASILEIRO

 

 

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante,

As margens tranqüilas do Ipiranga ouviram o brado ecoante de um povo heróico,

 

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.

E a liberdade, que reluz como o sol, brilhou no céu do Brasil naquele instante.

 

Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte,

Se a garantia da igualdade, nós conseguimos conquistar com um braço forte,

 

Em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito a própria morte! Ó pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!

Nesta mesma liberdade, nós agora podemos desafiar a própria morte! Ó Pátria amada, idolatrada! Que Deus te Salve! Que Deus te salve!

 

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança a terra desce, se em teu formoso céu, risonho e límpido, a imagem do Cruzeiro resplandece.

Se a imagem do Cruzeiro resplandece no lindo e risonho céu do Brasil, um sonho maravilhoso de amor e de esperança desce até nós.

 

Gigante pela própria natureza. És belo, és forte, impávido colosso, e o teu futuro espelha essa grandeza.

Gigante pela própria natureza! É belo, é forte, é um destemido gigante, e o futuro deste país já reflete toda essa grandeza.

 

Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil, ó pátria amada!

Terra adorada. Entre outras mil terras, o Brasil é a Pátria amada!

 

Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil!

Essa pátria é a mãe gentil de todos os brasileiros. Essa pátria amada é o Brasil!

 

Deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo, fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo.

Deitado eternamente num lugar esplêndido, ao som do mar, e à luz de um céu muito profundo, o Brasil resplandece como o destaque da América, sendo iluminado pelo sol do “Novo Mundo”.

 

Do que a terra, mais garrida, teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

Os campos lindos e risonhos do Brasil têm mais flores do que a mais enfeitada das terras;

 

Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida, no teu seio, mais amores. Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!

Nossos bosques e jardins têm mais vida, e nossa própria vida, no Brasil, tem mais amores. Ó Pátria amada, idolatrada! Que Deus te Salve! Que Deus te salve!

 

Brasil, de amor eterno seja símbolo o lábaro que ostentas estrelado,

Que a bandeira estrelada do Brasil seja o símbolo do amor eterno,

 

E diga o verde-louro dessa flâmula: "Paz no futuro e glória no passado".

E que o belo tom de verde dessa bandeira represente a glória do nosso passado, e a paz do futuro.

 

Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta, nem teme, quem te adora, a própria morte.

Mas se a arma da justiça se erguer, todos verão que os brasileiros não fogem da luta, e aqueles que adoram esta nação não temem a própria morte.

 

Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil, ó pátria amada!

Terra adorada. Entre outras mil terras, o Brasil é a Pátria amada!

 

Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada, Brasil!

Essa pátria é a mãe gentil de todos os brasileiros. Essa pátria amada é o Brasil!

 

 

 

INTERPRETAÇÃO INFORMAL DO HINO NACIONAL BRASILEIRO

 

 

De repente, todos que estavam nas calmas e tranqüilas margens do Rio Ipiranga ouviram um brado fortíssimo e ecoante de um povo heróico e corajoso! Era o grito de Dom Pedro I, “Independência ou Morte”, declarando a Independência Brasileira. Agora éramos livres da opressão européia. Agora o Brasil era dos brasileiros! Quando esse brado foi exclamado, o glorioso “Sol da Liberdade” nasceu sobre o Brasil, invadiu nosso ser, e resplandeceu no céu da nossa Pátria. E se com essa raça, esse vigor, essa audácia e valentia desmedida, conseguimos garantir aos brasileiros a liberdade e o direito da igualdade, imagine só aonde não chegaremos, agora que somos livres! Podemos agora desafiar até mesmo a própria morte, pois somos um povo livre e cheio de raça e coragem.

 

Brasil! Esse é o nosso país amado e idolatrado! Eu declaro que Deus vai te salvar. Ele há de te salvar, Brasil!

 

Toda vez que olharmos para o céu, e vermos a maravilhosa constelação “Cruzeiro do Sul”, reluzente, brilhando e iluminando o céu brasileiro, nos lembraremos que há um sonho forte e intenso em nosso coração. Uma chama viva de amor e de esperança em nosso ser. O Brasil é este sonho, esta chama. Não uma utopia. Um sonho que se realiza a cada dia. Este país é fora de série. É um gigante! Um país essencialmente gigante, imenso, colossal! É lindo, forte, poderoso. Um gigante que avança soberano, cujo futuro já reflete essa grandeza insuperável. Uma terra excelente, digna de ser amada e adorada. No mundo há dezenas, centenas de outros países e milhares de outras terras, mas o Brasil é a nossa Pátria amada.

 

Somos filhos do Brasil, o país que nos gerou com garra e nobreza. Esta é a nossa terra. Este é o nosso Brasil!

 

Fixado num lugar excelente, ninguém poderá movê-lo daqui. Não porque ele é morto e acomodado, mas sim porque ninguém pode avançar sobre ele. O Brasil é o Brasil! Situado numa região maravilhosa, com uma biodiversidade invejável, um céu lindo e admirável, e contornado pelo imenso e maravilhoso Oceano Atlântico, o Brasil se sobressai como grande destaque do continente, sendo iluminado pelo sol da América. Seus campos são lindos, e revelam a flora mais bela do mundo. Nem as mais belas paisagens da terra se comparam aos campos do nosso país. Até mesmo nossos bosques têm mais vida que nos outros lugares. Num país assim, tão cheio de vida, nossa própria vida naturalmente terá muito mais amor, alegria e prazer.

 

Brasil! Esse é o meu país amado e idolatrado! Eu declaro que Deus vai te salvar. Ele há de te salvar!

           

Que as belas estrelas desenhadas em nossa bandeira simbolizem o amor eterno do Brasil, e que o verde que preenche nosso estandarte represente a glória do nosso passado, e a paz que experimentaremos no futuro. O Brasil garante aos brasileiros essa glória e paz, mas não pense que é um país composto por gente acomodada, covarde e frouxa não! Não, não! Pois se o Brasil precisar erguer a arma, e adentrar numa batalha mortal em busca de justiça, todos verão que o brasileiro é ousado, corajoso, destemido! Jamais foge de uma luta! Ah, não! Pelo contrário, os verdadeiros brasileiros batalham corajosamente o combate que for, pois aqueles que adoram esta nação não temem nem mesmo a própria morte! O Brasil é assim. Uma terra excelente, digna de ser amada e adorada. No mundo há dezenas, centenas de outros países, milhares de outras terras, mas o Brasil é a nossa Pátria amada!

 

Somos filhos do Brasil, o país que nos gerou com garra e nobreza. Esta é a nossa terra. Este é o nosso Brasil!

 

 

 

É isso aí. Espero que agora você entenda um pouco melhor nosso hino, e tenha motivos, ou mais motivos, para dizer que o ama. Quanto a mim, posso dizer que ao compreendê-lo, passei a admirá-lo muito mais! Como todos os outros países, o Brasil tem seus defeitos, mas com pessoas justas, íntegras e confiantes em Deus, podemos transformá-lo, afinal,

 

 

 

"FELIZ É A NAÇÃO CUJO DEUS É O SENHOR!"

                                                              SALMOS 33.12

 

 

 

Eduardo Feldberg

www.eduardofeldberg.com.br

 

 

 

Glossário:

 

 

Brasil: Variação da palavra “Brasa”; relativo à brasa; cor vermelha parecida com a brasa viva; relativo ao Pau-Brasil (planta comum em nosso território, na época do descobrimento, que produz um corante vermelho muito utilizado na época).

Clava: Arma antiga, em formato de bastão.

Colosso: Gigante; algo de proporções muito grandes.

Flâmula: Bandeira.

Florão: Joia ou objeto valioso.

Fúlgidos: Brilhante; resplandecente.

Fulgurar: Brilhar; se destacar.

Garrida: Florida; enfeitada.

Impávido: Corajoso; que não tem medo.

Lábaro: Bandeira.

Límpido: Puro; limpo.

Novo Mundo: Nome dado à América na época do descobrimento.

Plácidas: Calmo; tranquilo.

Retumbante: Som forte e barulhento.

Salve: Expressão de saudação ou cumprimento, equivalente a “Deus te salve”.

Vívido: Cheio de vida.

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